Ivanna Sant’ Ana Torres[1] e Thayná Porto[2]

“América, América,

Tuas terras sangradas mancharam teus rios.

Numa só comunhão, ainda que tarde,

Suas vozes se unem num só cantochão.”[3]

                         Julho de 2024 – Aparecida (SP), Brasil, “Juntos para Cuidar”,: dos povos, do planeta, em especial dos mais vulneráveis. O propósito do Genfest é conhecer e abraçar a diversidade cultural e religiosa presente no país e na América Latina, além de proporcionar aos jovens a realização de ações concretas, o aprofundamento do conceito e da prática da ecologia integral e de iniciativas que promovam a fraternidade universal como um caminho possível para superar as injustiças sociais.

Para Chiara Lubich, a América Latina é designada como o “continente azul”, uma metáfora que transcende fronteiras geográficas para abraçar a profunda espiritualidade e a diversidade cultural da região. Para Lubich, o azul simboliza os vastos oceanos que banham sua costa, assim como a esperança e a solidariedade que caracterizam os povos latino-americanos. Sob essa ótica, o continente azul representa não apenas uma terra de riquezas naturais, mas também um espaço de encontro e fraternidade na profundidade dos direitos humanos compartilhados, onde as diferenças são celebradas e a unidade na diversidade é valorizada como um caminho para a paz alicerçada na justiça social, que transcende fronteiras. É um chamado para a reconciliação, o diálogo intercultural e a construção de um mundo justo, inclusivo e sustentável.

Jovens, uni-vos! Morrer pela própria gente! Assim Chiara Lubich convocou e desafiou muitas vezes os jovens a concretizarem o ideal de um mundo unido. Para ela, os jovens não eram somente o futuro, mas também o presente dinâmico e potente de qualquer sociedade, os protagonistas de uma revolução do amor, capazes de superar divisões e construir pontes de entendimento e cooperação entre diferentes culturas, religiões e tradições. Os discursos dela, nas diversas edições dos Genfest, ressoavam como uma mensagem de esperança e otimismo, encorajando os jovens a se unirem em prol de um mundo onde todos pudessem viver com dignidade. Em seu discurso no Genfest de 1987, Chiara nos disse que o primeiro Genfest marcou o nascimento de um Movimento de jovens que acreditam firmemente que é possível construir um mundo de paz, um mundo de concórdia e dão tudo de si para vivê-lo.

Sabemos o quão adoecida encontra-se a sociedade hoje, com relacionamentos líquidos e descartáveis, desigualdade social, falta de empatia, preconceitos diversos, racismo e outras inúmeras formas de violência. Indo contracorrente aos problemas enfrentados pelas sociedades atualmente, o Genfest é mais que um evento festivo. É o momento em que jovens de diversos países, de diferentes culturas, crenças e realidades sociais, encontram-se e trocam experiências, vivendo concretamente o que acreditam: que o mundo unido é possível e se vive agora. É uma oportunidade única para quebrar barreiras e construir um mundo melhor com aqueles que têm sede de justiça social, e que através do amor e do diálogo estão dispostos a fazer-se um com os irmãos.

Nessa perspectiva, a relação entre política e juventude é crucial para o desenvolvimento e a vitalidade de uma sociedade. É essencial que os movimentos políticos estejam conectados com os jovens, proporcionando espaços para poderem participar ativamente do processo democrático por meio de suas preocupações, lutas e sonhos. Ao se envolver os jovens na tomada de decisões políticas, fortalece-se a democracia na busca de uma sociedade na qual a fraternidade não seja apenas uma utopia, tão pouco seja um princípio religioso, mas acima de tudo o horizonte possível para o campo civil e político.

Por isso, o MPPU (Movimento Político pela Unidade) está participando de modo ativo na construção de todo o Genfest 2024 e em particular durante a fase 3, cujo objetivo é oferecer a possibilidade de realizar um empenho concreto por meio de atividades que favorecem a fraternidade, o diálogo, o empenho social e político em projetos locais com uma perspectiva global. Nessa terceira fase, os participantes terão a oportunidade de se inserir na Comunidade Pathways de “cidadania ativa e política” para juntos poderrem conversar sobre os desafios do mundo de hoje para ativar processos de mudança pessoal e coletiva e levar a fraternidade e a reciprocidade a todas as dimensões da vida humana.

Assim, o MPPU assume o lema “Juntos para Cuidar” como uma abordagem política inovadora que reconhece a interdependência entre os diversos atores sociais na busca por soluções para os desafios contemporâneos. Essa lógica deve se refletir na elaboração e implementação de políticas públicas desenvolvidas com base no princípio da unidade na diversidade, do cuidado mútuo, da responsabilidade compartilhada, do fortalecimento dos laços comunitários e institucionais, da participação e da justiça social. Portanto, o Genfest e o MPPU compartilham um ethos fundamental e se complementam ao promoverem uma cultura de cuidado, solidariedade, cooperação e colaboração em todos os aspectos da vida -do individual ao coletivo, do social ao político, do ambiental ao econômico … com o intuito de dar uma alma a esses espaços e seus relacionamentos.

 

[1] É professora aposentada, doutora em Educação, presidente do MppU Brasil e presidente AFAGO/DF. É ainda membro do Conselho de Educação do Distrito Federal e analista de projetos da FioTec.

[2] É membro do Movimento Gen (setor juvenil do Movimento dos Focolares), cientista social formada pela Universidade de Brasília e mestranda em Sociologia pela mesma universidade. É pesquisadora e ativista em diversas causas sociais.

[3] Trecho da canção América, América, conjunto Gen Sinco, de Belém.