“não há duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas uma única e complexa crise socioambiental” (Laudato Si, 139)

Célio Turin

Silêncio…

Ecoa o som das hélices.

O helicóptero se aproxima com um cesto amarrado.

No telhado, um velho, uma velha e um cachorro,

Todos molhados, a casa com água até a cumeeira,

Vinte e quatro horas no telhado,

Água por todos os lados.

Devastação.

Silêncio…

O velho coloca a velha no cesto, sua amada esposa,

Décadas de vida comum, tudo que tinham estava naquela casa.

É a vez do cão.

Ensopado, se nega a ir sem o velho

Até que é colocado no cesto.

Sobe ao helicóptero entre latidos.

Chega a vez do velho.

Silêncio…

A fúria das águas leva tudo, incluindo o velho.

É o clima em colapso.

Ocupação nas cabeceiras dos rios, nas encostas.

Sem cílios de mata a proteger as barrancas,

Nem floresta a proteger o clima.

Só plantação, pasto

E devastação.

Tragédia no Rio Grande do Sul: Um Alerta Urgente

Entre secas e inundações o estado do Rio Grande do Sul é retrato dos eventos climáticos extremos e do que está por vir; no Brasil e no mundo. Até meados de 2023 o estado enfrentava uma seca histórica fruto do resfriamento das águas do Oceano Pacífico. Foram mais de três anos com pouquíssimos períodos de chuva e seguidas quebras de safra agrícola. A quem prefere os dados macroeconômicos à poesia de vida, segundo dados do Departamento de Economia e Estatística do governo do Rio Grande do Sul, nesse período a participação do estado no PIB do país caiu de 6,53% em 2019 para 5,90 em 2023. Anos de secura em que “…as vacas magras e feias comeram as sete vacas gordas que tinham aparecido primeiro…//… e as espigas mirradas engoliram as sete espigas boas” (Gênesis 41:17-57).

O colapso do clima chegou. Haverá tempo para deter? Mitigar? Como será a adaptação? Quem vai se adaptar? Quem vai sobreviver?

Desde meados de 2023 o tempo virou. El niño substitui La niña e a água do Oceano Pacífico aquece. É a chuva, é a chuva! Temporais, tromba d’água e lama provocando um rastro de destruição e sofrimento. Começou com um ciclone extratropical em setembro de 2023 (em minha infância cantávamos que no Brasil não havia terremotos, nem furacões ou ciclones). Aquelas terras do sul, antes atormentadas pela secura estavam de baixo d’água. Mais de cinquenta pessoas morreram. Poucos meses depois, nova chuvarada afetando quase a metade dos municípios gaúchos. Outras 30 pessoas mortas e mais 70 desaparecidas, conforme dados da Defesa Civil.

Padrões climáticos cada vez mais imprevisíveis. Ora seca, ora enchentes.